Minha opinião a respeito dessa sistemática do inimigo, que tem um caráter claramente espiritual, seria tão válida, como a de qualquer outro, portanto, não vem ao caso. Porém a Palavra de Deus aborda tal questão de forma bastante clara em muitos locais, dos quais destacamos dois momentos.
O primeiro deles será encontrado na descrição da batalha travada entre Moisés e os magos do Egito, que o seguiram, passo a passo, nos sinais até que o poder de Deus se mostrou superior e eles ficaram para trás (Êxodo 7).
O segundo na posição de Jesus ao falar do grande dia do julgamento, em que muitos irão alegar ter feito sinais em seu nome, e mesmo distribuído a palavra do evangelho aos homens, contudo terão como resposta: “Não vos conheço” (Mat7: 14-23).
Ministrar nos moldes do orientado por Deus, ou em nome de Deus, não qualifica a vida de ninguém, pois são os frutos do espírito que fazem toda diferença, sendo o amor ao próximo seu ponto central, uma vez que aquele que não ama seu irmão não ama a Deus, que é, em essência amor (I Jo 4:20-21).
Lembre-se que a besta citada no Apocalipse, figura clara do inimigo que irá surgir no final dos tempos, fará grandes sinais e maravilhas com o anticristo, além de falar coisas grandiosas (Ap 13).
Esse tópico é muito rico e poderia ser desenvolvido de forma ampla, pois o diabo é bastante esperto para oferecer vantagens, que realmente pode dar. Exemplo disso é a passagem em que a Jesus a entrega de todos os reinos da terra, se o Filho de Deus o adorasse.
Registre, por enquanto, que os benefícios ou as alegrias obtidas pela anuência aos planos do diabo, embora interessantes ao extremo no início, têm um “preço” imenso a ser pago depois, tanto aqui na terra como na eternidade. Lembre-se de Judas, que conviveu com Jesus pelo mesmo espaço de tempo que os outros discípulos, mas, levado pela cobiça terrena, foi destruído.
Paulo, em Efésios 6:11-12, nos trás uma informação bastante séria quanto ao procedimento do diabo a nosso respeito, esclarecendo que esse trava uma batalha em relação a qual devemos nos proteger:
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo”.
Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas sim contra os principados, contra as potestades, e contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”.
Todavia, a importância dessa informação não resolve o aspecto particular de como nosso inimigo age, e quais são as suas principais estratégias.
Ao longo dos séculos, idéias religiosas, fábulas e até mesmo a imaginação humana levaram as pessoas a atribuir ao demônio a imagem grotesca de um dragão que ataca, e solta fogo pelas ventas, cujas características o tornam perfeitamente reconhecível por qualquer leigo, que procura dele se afastar o mais rápido possível, pois o vê como a antítese de Deus.
O exame da Palavra nos indica, porém, que o principal objetivo do diabo não é ser o oposto do Criador, mas sim promover uma competição buscando igualar-se Deus (Isaías 14:14). Isso nos adverte para que evitemos nos ater ao que vemos, pois o jogo do diabo se baseia na simulação, no disfarce, sendo sábio para nós ter cautela da “aparência do mal” e também da “aparência do bem”, por mais estranho que isso possa parecer.
Os ataques pessoais do diabo, tais como as perturbações malignas e mesmo as possessões, além de sinais e demonstrações mágicas de caráter físico, são uma realidade, com efeitos pirotécnicos que pessoalmente contemplei em várias ocasiões.
A ação do diabo em relação àqueles que já aceitaram a Jesus não pode, contudo, adquirir essa forma direta, pois o anjo do Senhor está acampado ao nosso redor, e de acordo com a promessa bíblica o diabo não pode nos tocar (I Jo 5:18), a menos que consintamos com isso. É nesse momento que entra a tática do engano, que busca atrair o salvo para falsas realidades espirituais, procedimentos “abençoados” , doutrinas do engano e outras coisas que parecem provir de Deus, mas têm outras fontes.
Quanto à maliciosa atuação do diabo, tal astúcia nos é revelada pela explanação de Jesus, que o classifica de “ladrão” (Jo 10:10), ou seja, aquele que buscando nosso prejuízo, ataca na surdina da noite, quando o dono da casa não está alerta para impedi-lo (Mt 24:43), uma vez que ele não tem capacidade de agir abertamente contra nós, que temos o poder de Jesus, imbatível diante de qualquer inimigo, realidade já anotada no trecho da carta de Paulo aos Efésios.
Pedro em suas primeira carta (5:8), fala a respeito de um “leão”, mostrando mais uma vez a tentativa do diabo em copiar a realidade divina, pois somente o “Leão de Judá” detém o poder, sendo o “rabudo” aquele felino velho e desdentado, mas que ainda assim tenta tragar, para sua sobrevivência, alguém que esteja fraco, doente ou descuidado da proteção divina.
Somos pó e o Senhor sabe muito bem disso, logo essa fragilidade não é resultado da condição natural do ser humano, mas sim da falta de discernimento do que Jesus fez por nós, conforme fala Paulo sobre o “fracos, doentes e os que dormem” (I Cor 11:28-30), por não entender o poder do sacrifício de Cristo, rememorado por nós a cada santa ceia que tomamos.
Notamos, portanto, que satanás tem sérias limitações na batalha espiritual, mas isso não representa razão para que fiquemos “deitados na rede” diante de suas artimanhas, considerando que como salvos estamos fora do alcance do inimigo, pois qualquer que seja o poder do fogo do diabo ele está centrado exatamente sobre nós, sendo seu alvo exclusivo.
A razão para isso é simples: não há ganhos para o diabo em trabalhar contra aqueles que estão no mundo e que, de uma forma ou outra, já o servem.
Observe que, se de um lado Lúcifer semeia joio entre o trigo para gerar confusão, por outro lado tenta roubar aquelas sementes que foram lançadas por Jesus na boa terra de nossos corações (Lc 8:12). Isso nos esclarece ainda mais sobre o trabalho do diabo, que não cria nada, mas procura se aproveitar do realizado por Deus.
Se até agora parece que esta história o coloca na mira de um inimigo invisível e totalmente desleal a qualquer principio, devo, de uma parte, acalmá-lo, uma vez que se “Deus é por nós quem será contra nós”, não havendo restrição para o cuidado divino e, por outro lado, quero incentivá-lo para que se mantenha guardado na Rocha, pois fora dela a chuva radioativa é intensa.
Um dos problemas, que nos leva ao descuido, é pensar que satanás somente vai estar naqueles lugares que evitamos freqüentar, do tipo, bares, boates, casas de jogos e festas mundanas.
Na realidade o inimigo que temos que combater não limita sua ação a lugares escusos, nem as organizações satanistas e aos terreiros de macumba.
Infelizmente nosso adversário se encontra bem mais perto, naqueles lugares comuns, que nos são tão familiares e ali, muitas e muitas vezes, manipula pessoas que conhecemos e que possuem toda aparência de “bonzinhos”.
Sobre esse aspecto é possível voltar ao episódio bíblico, em que Jesus repreendeu a Pedro, quando esse tentou, com palavras de incentivo e de aparente dedicação ao Mestre, desviá-lo da missão divina. Nesse momento o Filho de Deus não o chamou de amigo, nem de discípulo ou de atrevido ou de confuso, nem mesmo de tolo, mas empregou um termo que caracterizava bem a natureza da intervenção do discípulo que dizia amar Jesus mais do que todos, e ao fazê-lo: taxou-o diretamente de“satanás” (Mt 16:23).
Além do generalizado desconhecimento que temos do adversário, além do risco de suas técnicas, sua ampla área de atuação e o perigo de sermos envolvidos por falsos “amigos”, enfrentamos ainda o risco de nos fragilizarmos espiritualmente, pela suposição de que “temos a força”.
Essa cilada que envolveu o juiz Sansão (Juizes 16:20) é expressa nos dias de hoje pela errônea “convicção de santidade” , de “poder espiritual”, e de “superior conhecimento das coisas divinas”.
Tal armadilha é especialmente perigosa, pois ela é sempre preparada nos terrenos sagrados de nossas convicções espirituais, podendo representar nosso ponto de maior fragilidade, uma vez que a principal técnica do inimigo consiste em se transformar em “anjo de luz” para tentar nos incentivar a agir com base na nossa própria“capacidade”, dizendo que seremos “abençoados” desobedecendo a Deus, da mesma forma em que agiu com Adão e Eva, lá no jardim do Éden (II Cor 11:14; Gênesis 3: 4-5).
Ao avaliarmos a advertência de Jesus: “vigiai e orai para que não caiais em tentação” (Mateus 26:41), e aquela do apóstolo Paulo: “quem está em pé olhe que não caia” (I Cor 10; 12), percebemos que ser salvo, ou justo, não é um “diploma de qualidade e perfeição” para ser colocado na parede a mostra de todos, mas simplesmente o certificado de que estarmos alistados no exército eterno, aquele que trabalha na conquista do Reino.
Deus espera muito mais de seus guerreiros, Deus deseja um culto racional, aquele do dia a dia, (Rm 12:1) e uma fidelidade que deve durar até a morte (Ap 2:10).
O Senhor não limita sua relação para conosco ao provimento das coisas cotidianas. Isso é função da padaria onde você compra o seu pão e leite. Ele quer estar ao seu lado na eternidade. Ser um guerreiro relapso pode resultar na perda do já foi adquirido, conforme nos mostra a leitura de Ezequiel 33:13:
“Quando eu disser ao justo que certamente viverá, e ele , confiado na sua justiça , praticar iniqüidade, não virão à memória todas as suas justiças, mas na iniqüidade que pratica ele morrerá”.
e o nosso Pai Celestial não admite que isso aconteça, recomendando ser melhor entrar na eternidade sem um olho ou um membro do corpo do que ficar fora dela (Mat 18:9).
Não é possível “relaxar” diante da batalha, como fizeram aqueles que se uniram a Gideão (Juizes 7).
O inimigo conhece nossos pontos fracos e é exatamente nesse “calcanhar de Aquiles” que ele concentra sua estratégia de ataque.
É muito cômodo para nós deixar que o pecado, o mundo, o desleixo e a preguiça espiritual tomem conta, enquanto alegamos que nossa falhas e derrotas são todas culpa da “tentações do diabo”.
Se a tentação jamais provém de Deus (Tiago 1:13), ela, por outro lado, não pode ser atribuída à ação direta do diabo, pois o que ele faz nada mais é que motivar nossos pontos fracos. A Bíblia assegura que o homem é tentado por sua própria concupiscência, através de três portas de entrada: a concupiscência dos olhos, a concupiscência da carne e a soberba da vida (Tiago 1:14; I Jo 2:16), sendo que essa última é, sem dúvida, a mais perigosa para os salvos.
É importante observar que se o homem, cuja passagem na terra é breve, tem acumulado conhecimento científico e tecnológico, geração após geração, saindo da pedra lascada para os computadores e as viagens espaciais, muito mais o diabo e sua equipe possuem conhecimento e técnicas acumuladas para tentar nos enganar.
Nessa guerra o tempo não está propriamente a nosso favor, pois sendo o diabo um anjo de luz, e, portanto, um espírito imortal em termos físicos, pode gastar séculos preparando armadilhas fantasticamente elaboradas contra nós, das quais somente escaparemos pelo poder de Deus e nunca por capacidade própria.
Pedro achava que era o “poderoso”, mas Deus permitiu que falhasse, negando a Jesus, para que ele aprendesse que era frágil (Lc 22:31-34 e 54-62).
Cair em tentação é algo do homem, mas o levantar é de Deus. Tais derrotas são profundamente desagradáveis e têm efeitos danosos, pois o que o homem semeia colhe (Gal 6 ;7) . Não se esqueça, porém, que se confessarmos nossos pecados Ele é fiel e justo para nos perdoar. Você pode fracassar, mas isso não deve tirar sua certeza de salvação em Cristo, de quem nada nos pode separar (Rm 8:39) . |
Esteja guardado na Rocha Eterna.